Sessão Receita do dia a dia: Aquele dia.

Pois bem, aconteceram algumas coisinhas que me fizeram lembrar de um dia da minha infância. 

Não, não foi esse dia que eu fui fantasiada de oncinha para o colégio. Apesar de que foi um dia incrível, só faltou o salto 15 para virar Madonna. 

Segue a história desenterrada do fundo do baú. 

Quando eu estava na quarta série um garoto me chamou de sapatona. 
Eu tinha lá umas quedinhas por meninos e hoje continuo gostando somente de homens, apesar de algumas decepções que me causam (haha).
Ele só queria me ofender de algum modo. E eu, ingênua aos 10 anos, me ofendi.
Fui lá, com toda minha revolta, e falei para a professora. 
“Você é?” Ela questionou.

“Sou o quê?” Rebati, sem entender. Já que quem era pra ser alguma coisa era o colega. Mal educado, chato, ofensivo. 
“Você é sapatona?" 
Arregalei os olhos até que virassem dois píres. Meio gaguejando, meio pega de surpresa pela reviravolta no foco da conversa,  respondi não.
"Então você não deve se sentir ofendida.”

Isso grudou na minha cabeça como o chiclete que posteriormente o garoto grudou no meu cabelo.
Eu não deveria me sentir ofendida já que não me atacava diretamente?
E se eu fosse? Só assim eu deveria me sentir ofendida?
Sempre amei bichos, sempre me meti no meio deles, na defesa deles. Apesar de algumas vezes latir e miar por aí, nunca cresceu uma prolongação na minha coluna vertebral, uma cauda. 

Cara professora da quarta série, você estava errada. 
Aquele menino deveria ter sido repreendido no primeiro momento. 
Ser gay não é algo ruim. 
Eu não tenho que ser gay para não gostar de um termo pejorativo relacionado a eles.
Eu tenho o direito de me ofender com assuntos que não foram diretamente relacionados a mim. 
Seja sobre gays, negros, crianças, animais ou qualquer outro tópico. 
E caro menino chato da quarta série, espero que você tenha melhorado. Nunca é tarde para isso. 

Nem mesmo se você quiser ter uma cauda.